A figura da lavadeira, imortalizada por Beatriz Costa no filme “Aldeia da Roupa Branca”, em 1938, desapareceu do nosso quotidiano, tal como outras profissões tornadas desnecessárias pelos avanços da tecnologia. Trouxa de roupa à cabeça, mão na anca e pregão ensaiado na ponta da língua, eram elas quem ensaboava, esfregava, punha a corar, enxaguava, secava e por fim engomava a roupa, num tempo em que nem todas as casas tinham água canalizada.
Nas aldeias, era junto ao tanque comum ou nas margens dos ribeiros que as mulheres se juntavam para lavar a roupa. E era sempre escolhida uma pedra de forma e tamanho adequados para pousar o sabão, deixando escorrer a água mas evitando que o sabão caísse no tanque ou fosse levado pelo rio. Foi numa saboneteira de pedra encontrada na aldeia da Barroca, que o escultor se inspirou para fazer esta saboneteira gigante. As peças são trabalhadas a partir de um bloco de pedra cortado à medida com ferramentas diamantadas, procedendo-se ao seu desbaste até se atingir a forma pretendida. As peças são depois lixadas e polidas. Medidas: 45x17x7cm e 40x21x8cm.
Foi na horta que Idálio Dias bebeu a inspiração para criar estas peças simbólicas, decorativas ou utilitárias, cujos perfis evocam as formas de nabos, abóboras, couves e outros vegetais. Este conjunto de taças de diferentes tamanhos inspiram-se nos contentores tradicionais do mundo rural. Foram torneadas num torno VB36 a partir de um bloco de madeira de carvalho-alvarinho, outrora a árvore dominante nas florestas portuguesas do Minho, Douro Litoral e Beiras. Uma das taças mantém o rebordo ao natural, sendo visível uma tira mais escura e rugosa.
A madeira é trabalhada ainda verde, e a peça vai-se deformando à medida que seca, como parte do próprio processo de criação, como se a natureza contribuísse ela própria para o resultado final. Quanto ao acabamento, o artesão optou pela goma-laca, um produto 100% natural que consiste numa resina segregada por um insecto originário da Ásia, tradicionalmente usado na marcenaria em Portugal.