Uma peça que vive de lembranças, das marcas deixadas na terra pelas charruas, como rugas causadas pelo natural processo de envelhecimento recriadas nestes painéis rectangulares em cerâmica negra. Com a chuva, a terra volta a ficar alisada, como se rejuvenescesse – esse contraste está aqui presente.
O painel é todo feito à mão, moldando o barro como se se amassasse o pão, criando os sulcos da terra ao longo da peça com uma foice, texturas que deixam ver uma tonalidade diferente na parte interior do barro. Na parte exterior, a peça é brunida, ou alisada com a ajuda de um seixo do rio, lembrando a terra lisa depois de uma chuvada.
A cerâmica negra de Molelos tem tradição secular. O processo de cozedura a lenha em atmosfera redutora é que confere às peças o seu tom negro.
Peça de forte impacto estético pela sua curvatura, como um chifre estilizado de um qualquer animal auxiliar do homem nas tarefas agrícolas.
O barro, depois de preparado e ainda húmido, é modelado à mão, criando-se primeiro a forma de uma pirâmide. Esta vai sendo enrolada e trabalhada até se obter um cone, que do meio até à ponta é ligeiramente inclinado. A peça é escavada por dentro para lhe conferir maior leveza, e tem na base pequenos sulcos, como as rugas do envelhecimento. Quando está quase seco o barro é brunido – polido repetidamente com seixos do rio para eliminar qualquer porosidade. A peça finalizada é cozida em forno de lenha durante cerca de 10 horas, em atmosfera redutora, o que vai dar o característico tom negro ao barro.